• Ambrose Bierce - Prisão (conto)
    Jan 31 2025

    “A prisão” (1892) é um dos contos do escritor norte-americano Ambrose Bierce (1842-1914) que explora o realismo de terror psicológico. Nos é apresentada a história de Orrin Brower, de Kentucky, foragido da justiça, por um narrador observador um tanto sátiro. O conto tem todos os ares daquela narrativas orais contadas ao redor do fogo, com um narrador que faz interlocução com seus ouvintes, como na frase: "Mas o que querem vocês? Quando um homem valente é vencido, tem que se submeter.” O fato é que para fugir da prisão onde aguardava julgamento, Orrin Brower golpeou a cabeça o carcereiro Burton Duff, com uma barra de ferro. Seria seu segundo assassinato? Na floresta, enquanto se escondia sem qualquer arma de fogo para se defender, sua consciência deu lugar à aceitação de que suas chances de escapar eram mínimas e, quando uma sombra apareceu em seu encalço, ele cooperou com o homem que viera para recapturá-lo. Sem revidar, Orrin caminhou cada passo, até retornar à prisão. Boa leitura!


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  • Lima Barreto - A Cartomante (conto)
    Jan 24 2025

    “A cartomante” é um conto de Lima Barreto (1881-1922), no qual o escritor brasileiro explora o inesperado. Apresenta as agruras de um homem que narra a sua história e quando toda a sequência de tentativas de sua vida fracassam, ele chega à conclusão de que algo misterioso influenciava-o ao enfado. O homem enaltece que a salvadora do lar é sua esposa, tão esforçada que ficara velha antes do tempo, pois todos os dias saía cedo e virava a cidade, buscando suas costuras. É quando decide procurar uma cartomante para desfazer o feitiço maligno que está atrasando a sua vida por tanto tempo. A caminho de lá, já lhe começam a vir os sonhos de que a abastança voltaria à casa. Nesta história, Lima explora o poder das revelações, da ignorância e do vitimismo. É inevitável tentarmos traçar um paralelo entre “A cartomante” de Lima Barreto e o homônimo conto de Machado de Assis (1884). Contudo, em Machado um narrador observador nos revela um triângulo amoroso que se desfecha, a partir da interferência da cartomante italiana que canta uma bancarrota. Em Lima, a cartomante Madame Dadá tem sua verdadeira identidade revelada na cartada final do conto. Certamente que Lima havia lido Machado, contudo as produções só têm de igual, o próprio nome. Boa leitura!


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    20 mins
  • Aluísio Azevedo - Aos Vinte Anos (conto)
    Jan 17 2025

    “Aos vinte anos” (1865) é um dos contos de Aluísio Azevedo (1857-1913), com a pegada “comédia da vida privada”. Narrado pelo personagem que conhecemos pela idade 20 anos e a paixão de juventude, vai explanar seu envolvimento com a vizinha Ester, que tem 16 anos e os cabelos mais lindos do que aqueles com que Eva escondeu o seu primeiro pudor no paraíso. Podemos dizer que é um conto “aquecimento" para todas as produções importantes e famosas que o autor faria depois, como Casa de Pensão (1890), O Cortiço (1890) e Girândola de amôres (1900). Neste ínterim, houve ainda o emblemático conto em 12 capítulos “Demônios" (1891), que foi o episódio 189 do Leitura de Ouvido. Mas se “Aos vinte anos” é um conto simples, congrega a qualidade de ser picaresco e divertido. Caricaturista que era, nota-se que Azevedo pincelou no personagem do comendador José Bento Furtado estas tintas: velhote, de rodaque branco, chinelas, sem colete, palitando os dentes”. (AZEVEDO, 2016, posição 766) Nosso jovem narrador passa das perguntas retóricas aos seus planos de ação truncados e apaixonados. Ao final, Azevedo arranca uma bela gargalhada de seu leitor. Esperamos que goste. Boa leitura!


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    33 mins
  • Castro Alves - A Boa Vista (poema)
    Jan 10 2025

    “A boa vista” (1867) é uma das poesias saudosistas mais famosas de Castro Alves (1847-1871) e remete à propriedade da família em Salvador, a qual o poeta passou boa parte de sua infância; e, na ocasião da inspiração poética, havia voltado a morar no casarão da Quinta da Boa Vista com a mulher que mais amou na vida: Eugênia Câmara. Nesse retorno ao solar semiabandonado pela família, houve o momento em que bateu forte a falta de seus entes queridos e a solidão. Por isso, a poesia é uma elegia comovente, na qual flui livremente o vocabulário saudosista. Versos citam a alta torre da quinta, que por sua origem, fora construída para servir de mirante e vigiar o mar e a chegada de Navios Negreiros. Comovido, o poeta em seus versos quer chorar e espanta-se com as mudanças que denotam o abandono da propriedade, com o jardim descuidado, ervas daninhas, teia de aranha na estátua caída. Um jardim de onde as borboletas fogem e os grilos se calaram. Dentro da casa, por sua vez, há ecos, o que relaciona-se ao vazio que o poeta sentia. Aos 20 anos, quando escreveu, ele já havia perdido a mãe, o irmão, o pai e a própria meninice, que o casarão o faz lembrar. Ele fecha de forma metafórica, com as saudades como aves, um bando alado que roça nele suas asas, voando para o passado. Trazendo para os dias atuais, Boa Vista tornou-se uma péssima vista. Em 4 de janeiro deste ano, moradores realizaram protesto em frente ao Parque Solar Boa Vista, que pertence ao governo de Estado desde 1896, exigindo a revitalização do espaço. Eles denunciaram a degradação total do ambiente, com portas e janelas destruídas e escancaradas, a pixação em paredes, a demolição de muitas estruturas, o mato tomando conta, a história jogada ao chão. Lamentável! Cremos que esse episódio possa somar-se ao protesto. Imagine o que Castro Alves escreveria, diante desse cenário apocalíptico? Boa leitura!


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    45 mins
  • A Queda da Casa de Usher - Edgar Allan Poe (conto)
    Jan 3 2025

    “A queda da casa de Usher” é um dos contos mais famosos de Edgar Allan Poe (1809-1849), auge do gênero gótico, conjurando temas profundos: o duplo na literatura, loucura, família, isolamento e identidades metafísicas. Narrado pelo inominado amigo de infância de Roderick Usher com seus fluxos de consciência e perguntas retóricas, desperta sentimentos antagônicos, em especial quando os personagens estão frente a frente com o silêncio. Ao descrever o amigo, o leitor percebe que Usher tem seus cinco sentidos alterados, um homem com radiação de tristeza e que derrama lágrimas passionais por Lady Madeline, sua irmã. São gêmeos intrinsicamente ligados, de corpo e alma. Morando por todas as gerações numa casa imensa e macabra, que guarda em suas pedras as energias de todos os antepassados, sempre em linha direta de descendência, uma hereditariedade invariável. Justamente essa descendência colateral é o que pode ter causado o comportamento e a vivência patológicos. Assim, as ruínas anunciadas no título do conto não se referem apenas à residência dos Usher, mas também a esta própria relação estranha e condenada entre os irmãos. "A Queda da Casa de Usher" foi publicado pela primeira vez em setembro de 1839 na Burton's Gentleman's Magazine. Hoje, publicamos a nova produção de nosso conto piloto do LdO, agora com a tradução do carioca Romildo Muniz. Boa leitura!

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    1 hr and 20 mins
  • Álvarez de Azevedo - Noite na Taverna (livro completo)
    Dec 27 2024

    Retrospectiva: era 26 de janeiro de 2024 quando decidimos fazer um projeto de sete semanas e um livro inteiro. Assim, em fevereiro concluímos Noite na Taverna (1855), publicando, semana a semana, cada um dos seus sete capítulos. Agora, pensamos que, ao invés de pular uma semana sem publicação de episódio aqui no Leitura de Ouvido, ao final desta quinta temporada vamos agir diferente. Renderizamos o livro inteiro e publicamos hoje, pelo garbo desta obra na literatura brasileira e dos frutos e depoimentos que tivemos sobre ela, ao longo do ano.

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    2 hrs and 27 mins
  • Sir Arthur Conan Doyle - O Carbúnculo Azul (Sherlock Holmes)
    Dec 20 2024

    “O carbúnculo azul” é um dos doze contos de As Aventuras de Sherlock Holmes, de Sir Arthur Conan Doyle (1859-1930) e acontece exatamente num Natal do século XIX. O sinistro começa dia 22, com o sumiço de uma pedra preciosa diferenciada, da condessa de Morcar, roubada no Hotel Cosmopolitan, em Londres. Eis que o chamado carbúnculo azul vai parar justamente na goela de uma ave de Natal, que na história é chamada de ganso. E um jovem encanador vai preso. Um chapéu é perdido. Diante de todas essas pontas soltas, o conto inicia com a clássica conversa entre os dois amigos, Watson e Sherlock, no apartamento 221B, de Baker Street, apresentando os fatos concretos que temos e as valorosas deduções deste que é um dos detetives mais famosos da literatura mundial. Os jornais são pauta de pesquisa e investigação, acompanhados da infalível técnica dedutiva e da a incisiva postura: “Meu nome é Sherlock Holmes e meu trabalho consiste em saber o que os outros não sabem”. Nesta história, em suas próprias palavras, o acaso trouxe à dupla um problema dos mais curiosos e caprichosos. “Só o fato de o ter resolvido é satisfação”. A revelação, ao desvendar o sinistro, é um dos pontos altos para o leitor. Boa leitura!

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    1 hr and 11 mins
  • Hans Christian Andersen - O Abeto de Natal (conto)
    Dec 13 2024

    “O abeto de Natal” é um conto “exame de consciência”, do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen (1805- 1875). Partindo do hábito de escolher uma nova árvore de Natal a cada fim de ano, o conto desenrola diversas metáforas, a partir da ansiedade e dos desejos desmesurados de uma árvore de abeto. "Oh, como eu desejo! Eu não sei o que se passa comigo!?” Os mais experientes lhe diziam: “Alegra-te em sua juventude”. Mas o abeto era jovem e sem entendimento. Enfim, chega o dia do esplendor do abeto, escolhido para ser árvore de Natal. Mas após a noite brilhosa, ele vive seus exames de consciência: “ele teve muito tempo para sonhar, à medida que os dias e as noites se passavam”. Com esse cenário, esse conto pode nos ajudar a pensar em ansiedades: o que fiz com meu ano? O que estou fazendo da minha vida? Digamos que é um conto: “cuidado com o que deseja” que pode ajudar a tirar viseiras e também a perceber um bocado da lei de Murphy de que “tudo sempre pode piorar”. As metáforas perpassam a lebre, as andorinhas, a cegonha, os raios de sol, os pardais e o ar, a luz do dia e até os ratos; bem como as estações do ano, dando conta de três invernos, além do outono e da primavera.


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