Durante três anos, a Anna Paim tentou emagrecer para curar uma dor no quadril. Foi só quando encontrou um médico que examinou seu quadro com mais atenção que ela recebeu a indicação correta de tratamento, que não incluía o emagrecimento. Assim como o primeiro médico que atendeu a Anna, muitos profissionais de saúde apontam a perda de peso como solução para tudo. Uma pesquisa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) mostrou que um terço dos pacientes se queixam que o médico se recusa a dar atenção à queixa que o levou a consulta, insistindo que o único problema é o excesso de peso. Essa negligência resulta em diagnósticos errados e sofrimento.

Balança que não comporta seu peso, manguito de pressão que não fecha no braço, tomógrafo que não é apropriado para todos os tipos de corpos... fazer uma consulta ou exame pode virar um verdadeiro pesadelo para quem não tem o corpo padrão. A situação piora quando o quadro é de urgência e não é possível procurar outro hospital ou clínica para fazer o procedimento. Nesse episódio, vamos ouvir do desabafo do Evandro Santiago Ferreira, que perdeu um filho porque a médica disse que "só no zoológico" haveria um equipamento para fazer um exame nele. Guilherme tinha sofrido um acidente de trânsito e morreu menos 24 horas depois. O pior: o hospital onde ele estava disse que tinha o equipamento necessário para o exame e que a fala da médica foi "infeliz".

Quando procurou um ginecologista e relatou o que sentia, a Gabriela Menezes da Costa recebeu a recomendação de investigar distúrbios de tireóide. O "pescoço gordo" dela chamou a atenção e deixou o médico preocupado. O profissional não cogitou uma gravidez, mesmo com ela dizendo que a menstruação estava atrasada. Os exames mostraram que estava tudo bem com a tireóide, mas ela esperava um bebê e podia ter começado a cuidar da gestação antes, se ela tivesse recebido um atendimento melhor no consultório. Para tentar evitar ou reduzir situações assim, a Universidade Federal de Minas Gerais )UFMG) elaborou, a pedido do Ministério da Saúde, um instrutivo para orientar profissionais de saúde a ter uma abordagem mais humana, acolhedora e eficaz aos pacientes com obesidade. O Brasil tem 60% das pessoas com sobrepeso e um em cada quatro brasileiros está obeso; o Ministério percebeu que muitas vezes a forma como os médicos tratam esses pacientes afasta as pessoas dos tratamentos e prejudica o diagnóstico correto.