É um filme que parece já estar fadado a uma interpretação pela via da imoralidade, mas encontramos muitos elementos na psicanálise para tentarmos desafiar essa interpretação pela via da moral, no texto de 1917 "Luto e Melancolia" de Freud. Porém, fica muito simples analisar esse filme tão complexo e com tantos conteúdos psicológicos, que apontam pela moral, apesar de também ser um filme que pende para esse campo. Vamos arriscar uma exploração mais ampla, e falar de estruturas que remetem a realidade psíquica de cada sujeito nos apoiando numa leitura psicanalítica.

Com o convidado especial Antonio Cava.“Asa Nisi Masa!

Esse ano o filme 8 ½ de Federico Fellini completa 60 anos.

Durante o sono, nosso inconsciente não se expressa em palavras, mas em imagens: Quadros ou cenas como num filme. Talvez por isso o cinema tenha despertado tanto interesse desde seu aparecimento. É a arte que mais se aproxima dos sonhos.

O mapa do Google explora e registra cada cantinho do planeta. A vida no mundo globalizado está escancarada na internet. Qualquer um pode filmar com um simples celular. A mídia social é um documentário da vida real. A realidade foi banalizada. Em meio a inflação de imagens só nos resta a vida interior como território inexplorado.

Mas a vida interior não é feita só de bons sentimentos. Além do território vasto do amor existe o território do pesadelo e da dor. Filmar o labirinto da mente humana não é uma tarefa fácil, mas um trabalho para os mestres.8 ½ é a obra-prima do cineasta Federico Fellini. Muitas cenas foram concebidas através dos sonhos do diretor, e assim como nos sonhos o “eu” multiplica-se. O filme é construído por lembranças e fantasias, e também por culpas e angústias. Fellini dá voz ao seu inconsciente, ou melhor, o filma. Autobiográfico? Fellini conta a história de Guido é um cineasta que entra em crise justo no começo das filmagens de seu novo trabalho. É invadido por lembranças e delírios, onde sonho e realidade se entrelaçam.

Há um filme a ser feito e Oito e meio constrói-se a partir dessa necessidade, encerrando-se quando, por fim, Guido encontra a resposta para a sua angústia.”

Antonio Cava