• Operação Mar Verde: quando Portugal invadiu Conacri

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Operação Mar Verde: quando Portugal invadiu Conacri

By: RFI Português
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  • Uma noite que marcou a história ! Em Novembro de 1970 Portugal invadiu Conacri, por algumas horas numa operação secreta até hoje envolta em mistério. Mais de meio século depois a RFI falou com ambos os lados. Acompanhe aqui, nomeadamente, os relatos de responsável da marinha portuguesa, por detrás do ataque, e o da viúva de Amílcar Cabral, testemunha dos factos.

    "Operação Mar Verde" é uma série de 3 episódios de Miguel Martins.

    France Médias Monde
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Episodes
  • 3/3: Desfecho e consequências da "Agressão portuguesa" de Conacri
    Sep 19 2024
    Perante um sucesso muito relativo da operação a Conacri choveram as reacções. Como Sékou Touré e Portugal geriram o choque desta operação relâmpago e que consequências teve ela em relação à luta pela independência da Guiné-Bissau ? Acompanhe aqui as respostas. Terminamos aqui a série de três episódios consagrados à Operação Mar Verde.Começámos por ver como os dissidentes da Guiné francófona se aliaram ao regime colonial português em Bissau para tentar precipitar o fim do regime de Sékou Touré e como o plano secreto foi preparado e executado há mais de meio século.Destaque agora para o desfecho e as consequências desta operação lendária levada a cabo em Conacri a 22 de Novembro de 1970.Na linha de mira de Lisboa estavam os apoios de que o PAIGC beneficiava na capital daquela que tinha sido no passado a Guiné francesa.O Partido Africano para a independência da Guiné e Cabo Verde tinha, aí efectivamente, a sua base, em Conacri.Ana Maria Cabral, viúva de Amílcar Cabral, o líder do PAIGC, que viria a ser assassinado em Janeiro de 1973, viveu na primeira pessoa o ataque.Ela admite ter escapado por um triz e revela-nos aqui um testemunho exclusivo sobre como tudo aconteceu.Estivemos por um triz e só não morremos por sorte ! Estávamos a dormir e eu acordei com aquele barulho ! Fui acordar os meus filhos e já tinham bombardeado, atirado um obus para nossa casa. E o obus caiu na casa de banho. A casa toda tremeu ! Então estava eu sozinha em casa com os meus filhos. Só tive tempo de chamar os meus camaradas, os guardas que foram por trás e disseram: "Apanhe os seus filhos e sai. Sai, sai, sai, sai, sai"! Saímos e andámos ali pelo mato até que de manhãzinha. E alguns camaradas, como a Embaixada do Vietname ficava ali perto, foram pedir à Embaixada do Vietname para lá ficar. Mas depois acabámos...porque naquela altura existia ainda a União Soviética e tinha uma enorme embaixada que chamavam de "Petit Moscou". Acabámos por nos refugiar ali porque os vietnamitas, coitados, não podiam. Era uma coisa muito simples, a embaixada deles não tinham possibilidade. Ficámos lá até ao regresso do Amílcar Cabral, que nos tirou de lá. A nossa casa ficou completamente danificada. Houve muitos estragos e rebentaram com pelo menos a parte da frente da nossa casa. Ao lado ficava o secretariado. Era tudo a mesma coisa. Era só um prédio. Aquilo foi mesmo... Nós não morremos por sorte porque eles bombardearam... Se tivessem bombardeado mais para a frente, tinham-nos apanhado no quarto. E então um obus... Até quando se reconstruiu a casa, o Amílcar pediu que deixassem lá aquele buraco que entrou na casa de banho como recordação do obus, porque caiu mesmo ao lado do meu quarto. Um dos principais alvos da operação lusa acaba por fracassar. Amilcar Cabral nem se encontrava em Conacri na altura e por isso não foi apreendido.Ele não estava. Ele estava na Europa. Nessa altura a Europa estava dividida. Havia os países capitalistas e os países chamados socialistas. Então e ele estava num desses países a solicitar ajuda ou quê.Porque nós não fabricávamos armas, não é? As seis embarcações portuguesas deixam rapidamente Conacri sem conseguir derrubar Sékou Touré, nem prender Amílcar Cabral. O relato da retirada é-nos feito por Costa Correia, o comandante da lancha de desembarque Montante, uma das seis embarcações portuguesas que protagonizaram a "Mar Verde".Não tínhamos consciência se havia ou não aviação militar. O facto é que realmente houve pelo menos um voo de um dos aviões da Guiné-Conacri que sobrevoou Conacri e ainda disparou contra navios mercantes, um navio mercante, creio eu. Já estávamos nós a navegar e isso ocorreu. Poderia, eventualmente, efectivamente ter sido contra um dos navios invasores, digamos assim. Isso não aconteceu. Não se sabe bem porquê. Dizem que os pilotos dos aviões ainda tinham pouco treino, mas o facto é que houve realmente uma sobrevoo, talvez cerca das 10 horas da manhã, já estavam os navios em formação de retirada. Mas houve ainda um avião que sobrevoou Conacri e que disparou. Não se sabe bem como nem porquê contra um navio mercante e fez até alguns danos, segundo creio. Se falharam várias das metas definidas por Lisboa naquela operação, obteve-se, porém, naquela noite, a libertação dos presos portugueses nas instalações do PAIGC em Conacri, como admite Ana Maria Cabral.A única coisa que eles conseguiram foi libertar os fuzileiros portugueses. Porque tínhamos uma casa que ficava, assim, numa colina. Como na Guiné praticamente não há montanhas, a nossa gente chamava aquilo "A montanha", mas aquilo era mais uma colina do que uma montanha. Mas enfim, pronto ! No entanto, os presos portugueses soltos recebem instruções sobre a versão que podem contar. E isto por causa do carácter secreto da operação. Como testemunha do novo, o comandante de Mar e guerra luso Costa ...
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    20 mins
  • 2/3: Objectivo Conacri, visar o PAIGC e SékouTouré
    Sep 19 2024
    O objectivo da operação comandada por Portugal era visar o PAIGC e SékouTouré. Acompanhe aqui o relato das operações de 22 de Novembro de 1970 com todos os lados implicados nesta operação relâmpago secreta a Conacri, uma noite lendária que ficou para a História. A RFI continua a explorar os meandros da Operação Mar Verde e a invasão a 22 de Novembro de 1970 de Conacri numa operação militar secreta portuguesa com o apoio de dissidentes da República da Guiné.Para além de se visar o regime de Sékou Touré na linha de mira de Lisboa estava o PAIGC que beneficiava em Conacri da sua principal base de actuação.É verdade que desde 1963 os portugueses não têm tréguas com os ataques da guerrilha.Alexandre Carvalho Neto, secretário do governador da então Guiné portuguesa, o general Spínola, no final dos anos 60, testemunhava à RTP, a dimensão que a guerra contra o PAIGC tinha vindo a assumir.Eu cheguei a Bissau e ouvia-se regularmente, não direi todos os dias, mas pelo menos todas as semanas, ataques a Tite, que era do lado de lá do rio Geba. Nós ouvíamos os ataques.Do outro lado dessa guerra, o PAIGC, na voz de Francisca Pereira, admitia que a frente Sul, contígua à Guiné Conacri, era palco das maiores operações da sua guerra de libertação e a respectiva repressão pelos portugueses.Não foi nada fácil. Foi o período de grande bombardeamento, grande assalto na Frente Sul. Eu assisti a assaltos terríveis que fechava a nossa entrada da fronteira da Guiné-Conacri, onde nós nos abastecíamos.Prender o brilhante engenheiro agrónomo que lidera o PAIGC, Amílcar Cabral, através de uma incursão a Conacri que permitiria aniquilar os meios navais do movimento e libertar os presos portugueses ali detidos torna-se uma ideia que acaba por seduzir o general Spínola.26 presos portugueses estavam detidos em Conacri pelo PAIGC, incluindo o sargento-aviador António Lobato, o preso mais antigo da guerra dita colonial, detido há sete anos, um verdadeiro símbolo.Numa entrevista a Carol Valade ele descrevia as condições da sua detenção em Conacri.É indescritível. A minha cela tinha um bloco de cimento com um colchão de palha em cima e dois baldes: um balde com água que servia para me lavar e, se eu quisesse, para beber, e um outro balde exactamente igual, para fazer as minhas necessidades.O general Spínola, não obstante a sua política “Por uma Guiné melhor” como governador do território não consegue nem convencer Lisboa de qualquer negociação com Cabral nem tão pouco dizimar o PAIGC que granjeia cada vez mais apoios internacionais, adquirindo cada vez mais armamento sofisticado.O comandante de mar e guerra português Costa Correia, que comandou um dos seis navios que vão participar na operação, comenta o que terá acabado Spínola por se deixar convencer perante uma operação como a Mar Verde. Em 1969 houve uma tentativa do general Spínola de, verificando que era muito difícil obter uma vitória militar plena na Guiné-Bissau, tentou chegar à fala com o PAIGC, o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde. E, inclusivamente, encarregou três majores e um alferes do Exército português de entrarem em contacto com dirigentes do PAIGC, no sentido de obter um acordo militar que neutralizasse uma parte dos opositores ao regime.Simplesmente, houve, talvez intenções subjacentes nas cúpulas do PAIGC que levaram a que os majores fossem assassinados quando se dirigiam para o local do encontro. E o general Spínola, que era grande amigo deles e que os considerava excelentes oficiais, ficou realmente indignado. E a partir daí, assim, a atitude dele ao chegar a uma solução pré-política terá mudado e então tornou-se mais receptivo à ideia que Alpoim Calvão lhe apresentou. No sentido de se concretizar um golpe de Estado na Guiné-Conacri, que apoiava muito mais o PAIGC do que propriamente o Senegal. E que nele estivesse incluída a libertação dos prisioneiros portugueses que estavam numa prisão em Conacri. Terá sido isso que, psicologicamente e politicamente, levou à mudança de atitude do general Spínola. Enquanto isso o próprio Léopold Sedar Senghor, presidente do vizinho Senegal, teria recebido os opositores a Sékou Touré da FLNG a quem teria, mesmo, sugerido, que se entendessem com os portugueses para tentar derrubar o chefe de Estado da Guiné Conacri.A revelação consta do livro de José Matos “Ataque a Conakry: história de um golpe falhado” da editora Fronteira do caos.Eu encontrei aqui nos Arquivos Portugueses um documento que nos mostra uma reunião entre dois dirigentes importantes da Frente que vão a Dacar e que têm, de facto, uma reunião com o presidente Senghor. Onde claramente o presidente Senghor lhes diz que compreende a acção que vai ser tomada, ou pelo menos compreendem as intenções que existem de derrubar o Presidente Sékou Touré. E até chega mesmo a sugerir esses dois dirigentes do "...
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    15 mins
  • 1/3: Portugal e a oposição a Sekou Touré unem-se para levar a cabo "Mar Verde"
    Sep 19 2024
    Uma estranha aliança implicando, de um lado, o regime de Lisboa, com dificuldades em lidar com os ataques das tropas do PAIGC, na então Guiné portuguesa, e, do outro lado, a oposição a Sékou Touré, presidente da República da Guiné, dá corpo à Operação "Mar Verde". A RFI em Português levou a cabo uma investigação que permitisse levantar um pouco o véu sobre uma noite lendária na história da capital da jovem República da Guiné.E isto tendo como base, para além de documentos de arquivo, de alguns trabalhos anteriores alusivos da RFI, tanto em português, como em francês, de Carol Valade e de Laurent Correau.Porém este trabalho articulou-se, sobretudo, em torno das entrevistas realizadas ao comandante português de mar e guerra, Costa Correia, que chefiou uma das seis embarcações lusas na operação, e a Ana Maria Cabral, viúva do líder do PAIGC. Um e outro foram testemunhas, em lados opostos, dos acontecimentos de Conacri.Uma operação com mais de meio século que mereceu desde 2014 uma obra de Bilguissa Diallo em França, entretanto reeditada em 2021.Nesse mesmo ano, mas em Portugal uma outra obra alusiva foi lançada.“Ataque a Conakry: história de um golpe falhado” de José Matos e Mário Matos Lemos.José Matos que partilhou connosco as revelações a que chegou no decurso da sua investigação.Este foi, pois, o quadro da série de três episódios que realizámos, com difusão na RFI em Português em 2021, cujo texto aqui anexamos.1° Episódio: Operação Mar Verde : Portugal e a oposição a Sekou Touré unem-se para levar a cabo "Mar Verde"A RFI começa aqui uma série de reportagens sobre a Operação Mar Verde.Mar Verde foi o nome de código de uma operação secreta levada a cabo pelas forças portuguesas contra o poder da Guiné Conacri a 22 de Novembro de 1970 e que conta, pois, com pouco mais de meio século.Começamos aqui por tentar penetrar nas redes tecidas entre Portugal e a Guiné Conacri para consumar o plano.Em foco, antes de mais, a vertente relativa à Guiné Conacri.Esta foi uma operação lendária, que foi alvo da publicação recente de dois novos livros, aliás, um em França de Bilguissa Diallo, outro em Portugal de José Matos.Este último, co-autor do livro “Ataque a Conakry: história de um golpe falhado”, publicado pela editora Fronteira do Caos, alega que esta é uma operação ímpar."A Mar Verde é, no contexto da Guerra de África, uma operação única." A Mar Verde é, no contexto da Guerra de África, uma operação única porque é a única vez, na longa História da guerra, que Portugal invade um país vizinho. Neste caso a capital de um país vizinho, com um objectivo estratégico em mente. Não era o único, mas era, digamos, o objectivo mais importante da operação que é promover um golpe de Estado, e tentar substituir o regime que existia nesse país. Neste caso na República da Guiné, liderada pelo presidente Sékou Touré. E portanto esta operação é também uma operação lendária e é uma operação que, no contexto daquela guerra, não tem outra igual, noutro sítio. Nem em Angola, nem em Moçambique aconteceu algo de parecido, com uma operação desta dimensão e com este tipo de características!José Matos, que é um investigador português em História militar e autor de uma série de obras, inclusive em inglês, sobre as guerras do antigo Ultramar português em Angola e Moçambique, e, sobretudo, na actual Guiné-Bissau.Ele que colaborou também com Bilguissa Diallo, antiga jornalista em França, que publicou em 2021 junto da editora L’Harmattan o livro “Guinée, 22 novembre 1970, opération Mar Verde”.Bilguissa Diallo, em entrevista a Laurent Correau, acerca da Operação Mar Verde, descartava o facto de que os opositores da Guiné Conacri, que nela participaram, estivessem a soldo do regime colonial português.A autora editou uma nova edição de um livro sobre o caso.Eram pessoas que gostavam do seu país e que não estavam de todo à mercê nem do neo-colonialismo nem do imperialismo.Ela que é também a filha de Ibrahima Thierno Diallo, mentor de um partido de dissidentes guineenses.A FLGN, Frente de libertação nacional da Guiné, que esteve por detrás deste golpe com o regime português.Se o golpe tivesse sido bem sucedido, com o derrube do presidente Sékou Touré, da Guiné, vigente desde 1958, seria Diallo a suceder-lhe no cargo.Ibrahima Thierno Diallo, num registo de arquivo da RTP, Rádio e televisão de Portugal, compilado, como os demais neste trabalho, por Carol Valade, explicava que o seu combate se prendia com a defesa da liberdade do seu país e denunciava de forma contundente o regime de Sékou Touré.No que diz respeito à causa pela qual me bato, junto da Frente de libertação nacional, luto para que todos os cidadãos da Guiné possam viver livremente, dentro do meu país. E queremos demolir a ditadura de Sékou [Touré], queremos demolir esta ditadura desumana e...
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    13 mins

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